A luz está acesa lá fora e penetra o meu
quarto de forma atrevida pelo fino vão da porta. Eu estava morrendo de medo dos
sussurros que vinham de fora, mesmo reconhecendo aquele tom feminino de
mezzo-soprano e o tom masculino de barítono.
Eu puxei o edredom
que aquecia somente as minhas pernas e me cobri por completo. A luz agora não
me incomodava mais e o edredom fazia agora o papel de um escudo de proteção.
Eu ainda era uma
criança inocente, mas carregava um medo imensurável causado por algum tipo de
trauma que agora não me cabe retratar.
As vozes
familiares deram lugar a outras duas vozes também conhecidas (Fátima Bernardes
e William Bonner). Eu levantei, mas quando me vi envolvido pela escuridão,
entrei em desespero interior. Eu não podia chorar. Papai e mamãe disseram que
"homens não choram". Minhas roupas de baixo
se ensoparam pelo liquido quente e amarelado, que escorreu pelas
pernas, seguido de um choro preso, tentando ser engolido.
Eu chorei e a
minha mãe veio ver o que estava acontecendo. Não havia acontecido nada, eu só
estava com medo. Eu também não podia sentir medo. Papai e mamãe perguntavam:
"Você é um homem ou um rato?". Como eu não me considerava nem um
pouco repugnante, respondi que era um pesadelo, e ela acreditou.
Desde pequeno eu fui ensinado a seguir um padrão e a viver uma doutrina que se encaixava a ele. Mas, como eu não me encaixava (encaixo), mentia (minto).
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