Sentimentos & Futilidades

Sentimentos & Futilidades

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Eu não podia chorar/ sentir medo.

A luz está acesa lá fora e penetra o meu quarto de forma atrevida pelo fino vão da porta. Eu estava morrendo de medo dos sussurros que vinham de fora, mesmo reconhecendo aquele tom feminino de mezzo-soprano e o tom masculino de barítono.
Eu puxei o edredom que aquecia somente as minhas pernas e me cobri por completo. A luz agora não me incomodava mais e o edredom fazia agora o papel de um escudo de proteção.
Eu ainda era uma criança inocente, mas carregava um medo imensurável causado por algum tipo de trauma que agora não me cabe retratar.
As vozes familiares deram lugar a outras duas vozes também conhecidas (Fátima Bernardes e William Bonner). Eu levantei, mas quando me vi envolvido pela escuridão, entrei em desespero interior. Eu não podia chorar. Papai e mamãe disseram que "homens não choram". Minhas roupas de baixo se ensoparam pelo liquido quente e amarelado, que escorreu pelas pernas, seguido de um choro preso, tentando ser engolido.
Eu chorei e a minha mãe veio ver o que estava acontecendo. Não havia acontecido nada, eu só estava com medo. Eu também não podia sentir medo. Papai e mamãe perguntavam: "Você é um homem ou um rato?". Como eu não me considerava nem um pouco repugnante, respondi que era um pesadelo, e ela acreditou. 
Desde pequeno eu fui ensinado a seguir um padrão e a viver uma doutrina que se encaixava a ele. Mas, como eu não me encaixava (encaixo), mentia (minto).


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