Sentimentos & Futilidades

Sentimentos & Futilidades

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Bálsamo para ele, veneno para mim.

Nós achamos sempre que somos super heróis... Nós achamos sempre que podemos ser melhores, e por mais que sejamos, talvez nunca seja o suficiente. Sabem onde errei? Em achar que eu poderia fazê-lo curar-se de feridas abertas por outra pessoa. Eu quis ser bálsamo para ele, e fui veneno para mim mesmo. Ele havia acabado de ser brutalmente magoado, e eu, que o enxergava exatamente como ele era, que via tantas coisas lindas em sua personalidade, em seu jeito, em tudo o que fazia, senti que poderia ser tudo o que não foram para ele. E fui, mas não foi o suficiente. Eu não era o cara que ele amava, nem o cara que o havia magoado. Eu era o cara que deitava em sua cama, mas não enchia seu coração; era o cara que andava de mãos dadas no shopping, mas que para a família, era apenas um amigo; era o cara que o fazia rir, o fazia se sentir especial, o cara que escrevia cartas, que o olhava tão apaixonadamente e que estava satisfeito, mas não o satisfazia. Estive anos com pessoas que nunca me fizeram sentir o que senti em meses ao lado dele! Eu me sentia tão suprido... Tão transbordado! Mas ele estava raso, enquanto eu era oceano profundo. Nos cruzamos em momentos diferentes da vida, em que esperamos coisas diferentes. Ele queria passar o tempo, e eu queria casar, ter filhos, animais de estimação, um lar aconchegante e alguém por quem escrever estas frases tão plenas de sentimentos. Lembro-me que em uma primeira exposição que fomos juntos (ComCiência - CCBB/ RJ), uma obra me prendeu por muito tempo. Eram duas "motocicletas" que pareciam se abraçar, onde uma protegia a outra. Tornei aquela obra o nosso símbolo, o bem-te-vi nossa ave e o girassol nossa flor. Sei que o ensinei muitas coisas, assim como aprendi, mas algo em especial deixei com ele: "Seja sempre um girassol e inveje os bem-te-vis. Os girassóis, porque nunca descansam em sombra, mas viram-se sempre para o sol buscando sua luz até o último segundo, e os bem-te-vis porque eles bem-me-viram, como viram você.". Ah, que inveja tenho sentido dos bem-te-vis... Eles fazem questão de me esfregar na cara que bem-o-viram.


segunda-feira, 3 de outubro de 2016

A reciprocidade é rara.

A reciprocidade é rara. É como tentar comprimir e esticar o tempo. É como estar diante de milhões de possibilidades e não saber com certeza qual peça se encaixa em você. É sentir que você é peça que encaixa em tantos quebra-cabeças, mas que não significa ser a peça correta. É ter total ciência que você está apenas "tapando buracos". A reciprocidade é rara. É coração dos outros. É terra que ninguém pisa.  A reciprocidade nem sempre é correspondência mútua. É disposição. É dar a cara a tapa. É fazer com que seja, ou se torne. É valorizar o que se tem na mão, ou deitar de cama em cama sendo citosina buscando sua guanina...


domingo, 2 de outubro de 2016

Me desculpe, amor, ter te amado assim.


Olá... Sou eu novamente. Perdoe-me a insistência, mas é que chove lá fora, e isso me fez desesperar. Caiu enfim a ficha de que não estou em sua casa, em sua cama, assistindo filmes, ou ouvindo você gritar comigo para parar de implicar com os gatos. São 13:57h, e a esta hora nós estaríamos acabando de comer algo que você demorou 3h para fazer. Às 14:05h provavelmente já estaríamos de volta à cama. Você teria posto um filme, eu me encaixaria atrás de você, pondo meu rosto entre seu ombro e seu rosto para enxergar a tela do seu notebook, e logo estaria excitado. Mas não, não é nada carnal... É só sua presença, é só o que você é. Me desculpe, só agora me dei conta de que o cheiro do seu cabelo não está na minha camisa... Sua boca tão carnuda e rosa, não está mais na minha. Me desculpe, só agora me toquei que estou sozinho novamente. Às 14:06 você já estaria reclamando que sou chato e não largo de você. Desculpe, estou aproveitando a eternidade de cada segundo ao seu lado. Eu pego o telefone e intercalo entre o Facebook e o Instagram, você diz que eu tenho que viver o momento e a minha vida, e não a vida dos outros, mas é só o meu jeito de não afogar você com todo amor que sinto. Se amar é água, a ti os Oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Ah, meu bem, é domingo! Amanhã é segunda-feira, e eu deveria estar descansando para mais uma semana rotineira, mas escolhi ficar mais cansado. Escolhi não dormir para olhar você dormir. Escolhi beijar você um milhão de vezes durante a madrugada, porque você é lindo enquanto dorme. Me desculpe, só agora notei que é um travesseiro que me separa da parede, onde me agarro com tanta força, achando que é você. Ah, amor! Não são as transas, não são os beijos, nem o título que nunca tivemos que fazem falta, é a parceria, o companheirismo, a família, o carinho, o abraço, os lugares diferentes, os museus... Agora você vai estar em tudo! Agora o domingo vai me pesar como uma bigorna nas costas. Me desculpe, só agora notei que não tem mais nós dois, que não há mais suco de limão sem açúcar, não há mais sua irmã falando de biologia o tempo todo e da importância de uma boa alimentação, e nem sua mãe dizendo que queria ter nascido travesti, ou a repetida história de que ela trabalhou com três gays engraçadíssimos. Me desculpe, amor, ter te amado assim, tão só.