Sentimentos & Futilidades

Sentimentos & Futilidades

quinta-feira, 2 de março de 2017

Leva meu DNA. Tu, teu navio, teu leme, tua âncora.

Vai, pai! Pega tuas coisas, arruma tua mala e vai. É apenas mais um abandono para tua lista. É só mais uma ida sem volta... é só mais uma das tuas tiranias! Vai, pai! Leva contigo de volta meu DNA. Leva contigo nossas semelhanças, tuas características que carrego, os pedaços que vinha juntando de momentos que nunca tivemos. Vai, marinheiro! Vai ancorar em outro porto. Vai listar outro choro de outra criança que estraçalharás. Vai conduzindo teu navio, guiando teu leme pra longe desta terra que firmaste. Assim, quando mais tarde me procurardes (tua velhice evidente no rosto, tuas mãos não mais firmes), encontrarás diante de ti (nós) a muralha que ergueste. Foste criado para ser sozinho, marinheiro. Tua companhia é o mar, que apesar de vasto, é solitário. Agora (homem, pai, marinheiro, mar), nem mais a lua ousa refletir sua bela face nas tuas águas. Sozinho. Tu, teu navio, teu leme, tua âncora. Sem mais teus portos. Sem mais tua terra firme. Sem mais tua lua. Vai, some no horizonte só mais uma vez para não perder a natureza da tua existência. ⚓️