Sentimentos & Futilidades

Sentimentos & Futilidades

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Fui tão passageiro, que dói.

Tive tempo para explodir de dentro pra fora. Tive tempo para que lamentasse nosso rompimento e chorasse pelo fim... Tive tempo para que eu me sentisse tão fracassado por não passar de um passado, que sequer foi presente. Fui tão passageiro, meu bem, que dói. Não cheguei a ser nada além de uma pausa, e logo você avançou a música. Eu fui aquela música dançante que você ouvia nos fones de ouvido, mas que tinha vergonha de que os outros soubessem que você curtia. Se cuida, amor. Nas tuas baladas, nas tuas valsas, nos teus romances. E se você decidir dar o play em outra música, lembre-se que eu tô tocando a vida sem você.


A vergonha não é tua!

Eu tenho uma vizinha que admiro sem que ela saiba, e eu só soube depois de sonhar algo que mais parecia uma lembrança. Há alguns anos ela decidiu não mais ser a mulher submissa, oprimida e humilhada. Ela decidiu dar um basta, e pôr para fora o pai de seus dois filhos que a deixava desfigurada, após agredí-la doidão de pó. Ela deu a volta por cima, conseguiu um emprego e decidiu que nunca mais seus filhos a veriam cheia de hematomas e ouviriam seus gritos de socorro frustrados.

Lembro-me ainda muito bem de uma das muitas vezes, quando eu ainda tinha uns 8 ou 9 anos, da vez em que após um show de gritarias, em que ele ainda apoiado na impunidade gritava ofensas para quem quisesse ouvir, antecedendo as agressões que sequer podia imaginar como eram. Eu ficava na casa de uma amiga da família e perguntava: "Deia, por quê você não liga para a polícia?" E ela dizia que em briga de marido e mulher, não se mete a colher. E eu ouvia aquela vizinha gritando "Socorro", sem ninguém fazer nada... esse dia (que muito me marcou), a vi deitada na escada, roxa, ensanguentada, com o rosto que nem mais me parecia familiar, sem forças para levantar dali (ou talvez a humilhação fosse tanta, que ela imaginou que fosse ali mesmo seu lugar). Vizinha, a vergonha não foi tua, que estava impotente entre uma sequência de socos e chutes na frente dos teus filhos, a vergonha foi minha, que já sabia o número da polícia, mas tinha medo de pensarem que era trote. A vergonha não era tua, que era mãe, dona de casa, dedicada e caprichosa, era desse homem, que nunca valorizou teus esforços! A vergonha não é tua, vizinha, mãe e mulher, era de todos os vizinhos: os de porta, os de entrada, os de prédio, que ouviam teus gritos desesperados e nada faziam. E por incrível que pareça, vizinha, tua dor e teus gritos ainda me assombram, e isso me estimula a NUNCA MAIS permitir que outra mulher passe o mesmo que você.

Mulheres, vocês nunca mais estarão sozinhas. A vergonha não é de vocês, é NOSSA!

A omissão também mata. Em caso de agressões à mulher, ligue 180. O telefone funciona 24h por dia.