Sentimentos & Futilidades

Sentimentos & Futilidades

quarta-feira, 30 de março de 2011

Era uma vez...

Era uma vez um garoto que era culpado por tudo. Seus pais brigavam muito, e o assunto das discussões, era a insatisfação da mãe por seu filho mais novo ter um tratamento diferente dos outros. Os três demais irmãos já eram maiores de idade, tinham um emprego fixo e achavam que era obrigação do pai sustentá-los e dar de tudo para eles pelo simples fato de ele estar sempre agradando seu filho caçula que ainda era menor de idade e não trabalhava. Dois dos rapazes eram enteados dele, e os dois mais novos eram os filhos dele. O pai inconformado pela atitude inesperada dos rapazes decidiu impor-se, e cobrar alguma ajuda financeira. Eles nunca entenderam o motivo do tratamento especial para aquele pequeno garoto estúpido que não fazia nada e recebia sempre o melhor que seu pai podia dar. O garoto que sempre foi bom nos estudos, sempre pôs a família em primeiro lugar estava simplesmente cabisbaixo pelo fato de ser o provocador de toda aquela discórdia em meio àquela família. Ele tinha grandes sonhos, ele queria ser algo além de telemarketting ou um menino que ralasse bastante pra ganhar um salário pequeno no MC Donald's. Ele queria sempre mais do que uma vidinha miserável, ele simplesmente queria não depender de ninguém. Ele achava que não cobrando nada de ninguém, as pessoas não cobrariam nada dele. Ele não esperava nada de ninguém para que ninguém esperasse nada dele. “O erro do ser humano é querer realizar-se através dos outros. Para isso cada um tem sua vida: para realizar seus próprios sonhos, e não se realizar através de outras pessoas.” - Pensava o garoto. A certa altura ele compreendia exatamente tudo o que se passava na mente daqueles adolescentes que procuravam as ruas como refúgio, e a mente daqueles que preparavam um fim trágico para eles mesmos. A única coisa que o mantinha equilibrado era não estar em casa. Fora de casa, entre os amigos ele esquecia todos os problemas, mas bastava chegar em casa para perder o fôlego e perder-se no peso do clima.  

"O que eu mais quero agora é sair por essa porta e nunca mais voltar. O que eu quero é construir a minha própria vida sem depender de ninguém. Onde está a doce presença da morte quando mais necessito conhecê-la?" - Ele gritava em seus pensamentos ao deitar em sua cama para dormir. O rapaz viu em sua própria família que algumas pessoas buscam maneiras diferentes para se sentirem livres de toda a cobrança que há em casa. Ele percebeu que algumas pessoas buscavam as drogas para esquecerem seus aflitos, outras pessoas simplesmente distorciam a própria personalidade para descontar a raiva, e outras corriam atrás dos sonhos para provar que poderiam ser capazes de realizá-los. Certo dia ao voltar da escola, o jovem deparou-se com outra briga entre os familiares, e novamente incluindo seu nome como culpa. "Jamais irei chorar na frente deles, jamais mostrarei que eles abrem feridas enormes em meu coração. Se eu tiver de chorar, chorarei sozinho.” - Dizia em seus pensamentos. Ele pegou seu caderno e uma caneta e começou a escrever. Ao terminar, com muita dor em seu coração ele tomou um vidro inteiro de remédios para dormir e nunca mais acordar. As duas cartas encontravam-se uma em cada mão. Em uma delas dizia-se:
"Querida família, se estão lendo isso é porque finalmente aconteceu, não é? Resolvi deixar todos os meus sonhos para trás, e permitir que vocês seguissem suas vidas em harmonia. Agora não há motivos para discórdia. Sorriam, pois o que eu mais queria ver em vida eram trocas de sorrisos entre vocês e ser o motivo deles. Mas pelo o que eu pude entender, é que essa minha atitude agora tomada será o que trará o sorriso de volta para vossos rostos.”
A mãe nunca imaginando passar por uma situação como essa não conseguia parar de chorar. O pai dizia que o rapaz era seu maior tesouro, se havia discórdia era porque o sorriso dele era o que valia, e nada mais. Seus irmãos sentindo-se culpados choraram agarrando-se ao corpo sem vida. Um deles disse: “Meu irmão, de nada valeu ter tirado sua própria vida, pois agora não poderás ver nossos sorrisos e participar deles.”
Uma lágrima rolou dos olhos do adolescente, e foi algo inexplicável.
A segunda carta referia-se aos amigos, que quando souberam da notícia foram consolar a família. A carta dizia:
"Meus amigos! Aqui está a coragem que todos vocês cobravam de mim. Obrigado pelos conselhos, pelos momentos, pelos sorrisos que trouxeram de volta ao meu rosto! Lembro-me que sempre me pediam para ter forças para lidar com essa situação, e resolvi usar toda essa força e coragem para tirar minha própria vida e não ter que incomodá-los com meus problemas pessoais. Muitas coisas vocês ouviram de mim, mas o que vocês nunca ouviram é que desse lado da vida, não há motivos para derramar lágrimas, pois não há quem as motivem. "
E foram essas as últimas palavras de um jovem que um dia sonhou em ter algo que não o pertencia.

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