Era uma vez um garoto que
era culpado por tudo. Seus pais brigavam muito, e o assunto
das discussões, era a insatisfação da mãe por seu filho mais novo ter um
tratamento diferente dos outros. Os três demais irmãos já eram maiores de
idade, tinham um emprego fixo e achavam que era obrigação do pai sustentá-los e
dar de tudo para eles pelo simples fato de ele estar sempre agradando seu filho
caçula que ainda era menor de idade e não trabalhava. Dois dos rapazes
eram enteados dele, e os dois mais novos eram os filhos dele. O pai
inconformado pela atitude inesperada dos rapazes decidiu impor-se, e
cobrar alguma ajuda financeira. Eles nunca entenderam o motivo do tratamento
especial para aquele pequeno garoto estúpido que não fazia nada e recebia
sempre o melhor que seu pai podia dar. O garoto que sempre foi bom nos estudos,
sempre pôs a família em primeiro lugar estava simplesmente cabisbaixo pelo fato
de ser o provocador de toda aquela discórdia em meio àquela família. Ele tinha
grandes sonhos, ele queria ser algo além de telemarketting ou um menino que
ralasse bastante pra ganhar um salário pequeno no MC Donald's. Ele queria
sempre mais do que uma vidinha miserável, ele simplesmente queria não depender
de ninguém. Ele achava que não cobrando nada de ninguém, as pessoas não
cobrariam nada dele. Ele não esperava nada de ninguém para que ninguém
esperasse nada dele. “O erro do ser humano é querer realizar-se através dos
outros. Para isso cada um tem sua vida: para realizar seus próprios sonhos, e
não se realizar através de outras pessoas.” - Pensava o garoto. A certa altura
ele compreendia exatamente tudo o que se passava na mente daqueles adolescentes
que procuravam as ruas como refúgio, e a mente daqueles que preparavam um fim
trágico para eles mesmos. A única coisa que o mantinha equilibrado
era não estar em casa. Fora de casa, entre os amigos ele esquecia todos os
problemas, mas bastava chegar em casa para perder o fôlego e perder-se no peso
do clima.
"O que eu mais quero
agora é sair por essa porta e nunca mais voltar. O que eu quero é construir a
minha própria vida sem depender de ninguém. Onde está a doce presença da morte
quando mais necessito conhecê-la?" - Ele gritava em seus pensamentos ao
deitar em sua cama para dormir. O rapaz viu em sua própria família que algumas
pessoas buscam maneiras diferentes para se sentirem livres de toda a cobrança
que há em casa. Ele percebeu que algumas pessoas buscavam as drogas para
esquecerem seus aflitos, outras pessoas simplesmente distorciam a própria
personalidade para descontar a raiva, e outras corriam atrás dos sonhos para
provar que poderiam ser capazes de realizá-los. Certo dia ao voltar da escola,
o jovem deparou-se com outra briga entre os familiares, e novamente incluindo
seu nome como culpa. "Jamais irei chorar na frente deles, jamais mostrarei
que eles abrem feridas enormes em meu coração. Se eu tiver de chorar, chorarei
sozinho.” - Dizia em seus pensamentos. Ele pegou seu caderno e uma caneta e
começou a escrever. Ao terminar, com muita dor em seu coração ele tomou um
vidro inteiro de remédios para dormir e nunca mais acordar. As duas cartas
encontravam-se uma em cada mão. Em uma delas dizia-se:
"Querida família, se
estão lendo isso é porque finalmente aconteceu, não é? Resolvi deixar todos os
meus sonhos para trás, e permitir que vocês seguissem suas vidas em harmonia.
Agora não há motivos para discórdia. Sorriam, pois o que eu mais queria ver em
vida eram trocas de sorrisos entre vocês e ser o motivo deles. Mas pelo o que
eu pude entender, é que essa minha atitude agora tomada será o que trará o
sorriso de volta para vossos rostos.”
A mãe nunca imaginando
passar por uma situação como essa não conseguia parar de chorar. O pai dizia
que o rapaz era seu maior tesouro, se havia discórdia era porque o sorriso dele
era o que valia, e nada mais. Seus irmãos sentindo-se culpados choraram
agarrando-se ao corpo sem vida. Um deles disse: “Meu irmão, de nada valeu ter
tirado sua própria vida, pois agora não poderás ver nossos sorrisos e
participar deles.”
Uma lágrima rolou dos
olhos do adolescente, e foi algo inexplicável.
A segunda carta
referia-se aos amigos, que quando souberam da notícia foram consolar a família.
A carta dizia:
"Meus amigos! Aqui
está a coragem que todos vocês cobravam de mim. Obrigado pelos conselhos, pelos
momentos, pelos sorrisos que trouxeram de volta ao meu rosto! Lembro-me que
sempre me pediam para ter forças para lidar com essa situação, e resolvi usar
toda essa força e coragem para tirar minha própria vida e não ter que
incomodá-los com meus problemas pessoais. Muitas coisas vocês ouviram de mim,
mas o que vocês nunca ouviram é que desse lado da vida, não há motivos para
derramar lágrimas, pois não há quem as motivem. "
E foram essas as últimas
palavras de um jovem que um dia sonhou em ter algo que não o pertencia.
Parabéns conseguiu me comover.
ResponderExcluiraaaah, valeu ><'
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